Desabafitos de 2ª Feira
“OS CHICOS ESPERTOS DA
MINHA TERRA”
Em 46 anos de carreira
de músico, já tive de engolir muitos sapos, mas quem nunca o fez que atire a
primeira pedra. Tudo porque a música, para mim não é só um capricho, é a minha
profissão, a minha vida e a minha paixão e quando se “ama” de verdade
perdoa-se, ou pelo menos tenta-se. No entanto já estou numa fase da minha vida
em que posso levar desaforos mas de certeza que o troco da minha parte vem
quando menos se espera.
Hoje dia 28 de Julho,
um dos elementos fundadores do Conjunto Holiday In Portugal do Barreiro, na
pessoa do meu Ex colega e amigo José Libertino Figueiredo, postou, uma foto no
Facebook do conjunto onde eu estou com a bonita idade de 16 anitos. Recordar é
viver e muitas pessoas, resolveram abordar-me aqui na rede, ou em privado,
todas elas (pessoas) tinham um denominador comum, a saudade por aqueles
gloriosos e belos tempos terem acabado e entre dois dedos de conversa,
interrogaram-me o porquê?
Bem quem me conhece de
perto, sabe que eu tenho uma teoria que tenho defendido e que considero válida
sobre este assunto, mas que iria preencher muitas páginas e eu preferia antes
fazer um debate público, dada a complexidade que o mesmo contém.
Mas ainda assim vou
deixar aqui 2 exemplos dos muitos que poderia citar visando as 2 maiores
coletividades do Barreiro, refiro-me aos Franceses onde cresci como músico e Penicheiros,
onde tive o privilégio da atuar imensas vezes.
Nos tempos em que o Sr.º
Bernardino Matias foi Presidente dos Franceses, alternando com o José Augusto
velha gloria benfiquista para o identificarem melhor, os Franceses fervilhavam
de atividades, havia 2 Matinés e 2 Soirées por Mês, havia Revista Carnavalesca
e o Bar dava dinheiro, havia salas sempre cheias, Réveillons e Carnavais onde
não cabiam uma palha e onde os sócios se “debatiam” para ter uma mesa nos
eventos e que tinham de ser reservadas com muita antecedência. Foram Anos que
marcaram profundamente muitas gerações. Eu fiz mais de 25 Passagens de Ano e os
mesmos Carnavais nos Franceses por isso caros leitores devem de calcular que eu
sei muito bem o que estou a dizer, direi ainda mais! Depois de mim como músico
claro, tudo acabou mas já lá vou, não quero que me julguem convencido. Apesar
de haver sempre algo interessante para levar público aos Franceses, a Direção Presidida
“anos a fio” pela dupla José Augusto/ Bernardino Matias, foi sempre muito contestada
por outros Ex dirigentes que eram figuram emblemáticas da massa associativa,
mas verdade seja dita que se fizeram grandes melhoramentos, como o pavilhão Gimno
desportivo e um deles e o infantário por exemplo. Não tenho a menor dúvida que
o nome do José Augusto serviu para dar mais credibilidade aos apoios que a coletividade
ia tendo e deviam de ter ficado por aí, mas não ficaram. Cometeram muitos erros
seguidos, onde a maior asneira foi terem aberto uma Discoteca por debaixo do
salão de baile, e isso incomodava e de que maneira, o barulho era ensurdecedor,
cheguei a ter de atuar a contra relógio, porque na altura o “dono” da
discoteca, me ameaçava que às 0.30h arrancava com a música, lembro-me de haver
teatro e o “dono” da discoteca estar-se nas tintas para o que se passava no
salão nobre, de mulheres a serem molestadas quando vinham a sair dos bailes,
por bêbados e drogados que estavam a curtir a “night” depois de saírem da
discoteca etc… por causa dessa “brincadeira” dividiram-se opiniões, criaram-se
antagonismos e a desertificação começou a tomar forma, muitos sócios deixaram de
o ser, muitos pais não queriam que os seus filhos assistissem a muitas cenas
tristes mesmo à porta principal dos Franceses e deixaram de ir. Hoje é o que se
sabe. Serviu alguém e para alguém, mas não os sócios isso foi limpinho.
A gestão social foi mal
feita, lembro-me de passagens de ano a abarrotar pelas costuras com as mesas
cheias onde o socio pagava 2 contos por uma mesa e 4 cadeiras e tinham de ir
carregados com o farnel e às 2 horas da manhã a dita estar acabada, porque a Direção
assim o entendia. Aos poucos comecei a ver clareiras no salão onde anos antes
não cabia uma agulha e entendi que algo tinha de mudar e ser feita uma
abordagem social diferente. Entretanto Bernardino Matias faleceu e o descalabro
começou!
O José Augusto que até
aí e na minha opinião, no que dizia respeito às atividades recreativas,
mormente as festas no salão, tinha tido uma postura mais passiva, vê-se na contingência
de ter que assumir as “despesas da casa” nesta área, mas como a sua vida
particular não lhe permitia grandes investimentos de tempo, não teve outro
remédio senão passar a bola a outros e é aqui que aparecem os chicos espertos,
que sempre viveram na sombra de alguém mas como de repente lhe dão algum
protagonismo, querem mostrar trabalho, mas o seu Q.I nesta matéria foi
altamente deficiente e começou a ser cada tiro cada melro. Resolveram meter
para sócio uns indivíduos de etnia cigana, que por sua vez levou a família toda
atrás. 4 Carnavais antes de eu dizer adeus até nunca mais á coletividade a quem
dei os melhores anos da minha vida, (não é á toa, que o meu nome está lá numa
placa logo á entrada do salão), eles compravam caixas de cervejas que traziam
para o meio do salão, abriam entornavam o que devia de ser o primeiro gole para
o chão e depois faziam a festa á maneira deles indiferentes a quem lá estava. É
claro que os sócios, que estavam habituados a uma certa privacidade e
segurança, de repente viram-se envolvidos em cenas de pancadaria, mas qual quê
pôr policia á porta? Isso foram outros tempos, a Polícia custava dinheiro. È
caricato que a Polícia estava a 50 metros da coletividade, mas não a chamavam
porque tinha custos. E nesse ano o caso foi muito badalado na altura pela
cidade do Barreiro. As más noticias correm depressa e ainda esperei que
tivessem tido o bom senso de terem tido coragem de pôr um ponto final na
História, mas qual quê? No ano seguinte ainda foi pior e mais um grande
contributo para a desertificação. No ano seguinte o José Augusto contrata-me
agora já com os Companhia Limitada para fazer a Passagem de Ano e o Carnaval,
na altura disse-lhe o Zé Augusto, vocês deviam de dar um mimo aos sócios tipo
uma garrafinha de espumante em casa mesa que achas? E ele disse-me boa ideia Camarão
e essa foi a última passagem de ano que lá fiz, que correu muito bem com sala
cheia de sócios e não sócios pagantes e pensei, bom pode ser que isto se
recomponha também no Carnaval, mas qual quê no Sábado de Carnaval percebi que
as enchentes de outros tempos já eram águas passadas, mas ainda assim a sala
esteve composta e nós a esforçarmo-nos para que tudo corresse bem, só que no
Domingo quando a sala abriu houve uma invasão de famílias de etnia cigana e se
eles tinham direitos, as “outras” pessoas também podem reservar-se ao direito
do que bem entenderem e no caso concreto chegavam á porta e iam embora. No ano
seguinte fomos fazer a passagem de ano aos Galitos F. Clube, foi uma passagem
de ano maravilhosa, que correu muito bem com porta fechada para estranhos, só
entrou quem comprou mesa e a festa durou até às 4.30h da manhã, ficando no ar a
promessa de que no ano a seguir era para repetir, mas entrou outra Direção com
mais alguns CHICOS ESPERTOS que resolveram alugar a sala a pessoas de etnia
cigana para fazerem o seu réveillon privativo e pensaram que se iam safar,
porque era dinheiro em caixa sem trabalho como convém. Segundo fontes bem
informadas o que ganharam não deu para pagar a limpeza da sala tal foi o estado
em que a dita ficou. Agora atenção eu não estou a aqui com atitudes racistas,
só me limito a constatar factos reais e nada mais. Claro que a desertificação
das coletividades de Cultura e Recreio não se deve a estes 2 pormenores, que
acabei de citar. No caso dos Franceses tenho a certeza que contribuiu em larga
escala, nos Galitos? Tiveram uma oportunidade de fidelizar as pessoas para
terem ali uma situação que se podia tornar tradição, mas foi a única vez que
quiseram arriscar. A desertificação é muita mais complexa, mas a culpa não pode
morrer solteira e estes erros pagam-se caro. Depois da passagem de ano nos
Galitos salvo erro em 2001, o José Augusto contratou-me para fazer o Carnaval,
algo me dizia para não aceitar, tudo me cheirava a fiasco, mas era a minha
coletividade e infantilmente mais uma vez lutei contra o que já não havia
remédio e foi um fiasco… E CHOREI, chorei as 4 noites antes de subir ao palco e
olhava para aquela sala quase vazia, eu sabia que aquilo ia acontecer por isso eu
não queria aceitar, mas também sabia que não era por minha causa, mas o pior
foi quando um MERDOSO da Direção da altura dos Franceses digo bem MERDOSO, um
dos tais que teve a sua oportunidade de ser protagonista e “escafedeu” tudo
ainda mais quando me quis incutir culpas pelo fiasco que tinha acontecido,
dizendo que as pessoas não vinham porque a música não prestava? Eu mostrei-lhe
uma lista de todas as músicas que tínhamos tocado porque era uso frequente e
disse-lhe, olha para aqui e diz lá quais são as músicas que não são de
Carnaval? Ele encolheu os ombros, eu saí e jurei que nunca mais pisava aquele
palco como músico principalmente enquanto aquele javardolas lá estivesse. E foi
até hoje. No ano a seguir fui fazer o Carnaval para Sintra mas aproveitei o
Domingo que eles não toquei e fui aos Franceses ver in loco se era do cu ou se
era das calças. Quando lá cheguei fui direto ao balcão e estava eu e o Sr.º
Sabino do outro lado do balcão, este senhor chegou a ser Presidente da Direção
há muitos anos atrás. Na sala estavam 6 pessoas e sabem porque é que eu lhes
chamo CHICOS ESPERTOS? Porque em vez de terem arranjado um conjunto como deve
de ser, foram contratar uma jovem organista que independentemente do talento
que pudesse ter estava em desvantagem como devem de calcular. Imaginem por
favor o palco dos Franceses, com a cortina fechada e a rapariga com um órgão á
frente do pano sem luz, sem cor e sem público a tocar para uma sala com aquelas
dimensões com 6 pessoas. Ouvi ela tocar 3 músicas levantei-me e vim embora com
pena da pobre rapariga que foi atirada às feras. A partir a História fala por
si. Os Franceses entraram num declínio tão vergonhoso para a sua História que
por fim era o contínuo que arranjava uns principiantes para irem fazer matinées
ao Domingo à percentagem acreditam? E nunca mais aquela sala teve o brilho de
outrora e nem acredito que com este tipo de pessoas consiga dar a volta.
Atenção, eu estou a fazer uma crítica à Direção que estava salvo erro em 2001.
Agora não sei nem me interessa saber quem lá está. Mas pelos vistos não houve
muitas alterações em 13 anos.
Enquanto isto acontecia
nossa Franceses, curiosamente os Penicheiros, continuavam a ter a sala bem com
muita gente principalmente na Passagem de ano e Carnaval. Os Penicheiros situa-se
numa zona mais bairrista e eu pensei, bem agora estão sozinhos, mas pronto
deviam de manter a qualidade, mas não até há uns anos atrás não era qualquer
conjunto que ia aos Penicheiros, mas novamente a ideia de que a malta come
qualquer coisa prevaleceu e começaram a levar quantidade e a qualidade que se
lixe, depois claro eu acredito que as despesas são maiores que as receitas
porque os sócios acham que 2 ou 3 euros de cota, isto num exemplo á sorte,
chega para tudo, mas os tempos são outros e outrora quando havia vaidade em ser
Diretor destas coletividades, hoje? Fogem como diabo da Cruz e quem la fica tem
uma cruz enorme. Eu dos Penicheiros não falo muito porque não estou por dentro
do assunto, fui lá uma vez oferecer os meus serviços dos Companhia Limitada,
mas eles queriam também a passagem de Ano e eu já tinha marcado para o Hotel
Club D’Azeitão e eles não aceitaram, na minha opinião deram um tiro no pé ao
fazerem isso, porque quando cheguei á porta fechei com a SFAL e nos 6 anos
seguintes enchemos aquela sala de boa música e animação durante as 4 noites de
Carnaval e a SFAL pelo menos nessas 4 noites renasceu das cinzas, mas pelos
vistos há la mais chicos espertos que não percebem que os Companhia Limitada
não são um projeto melhor nem pior que outros, vedetismos não é comigo e acima
de tudo respeito todos os meus colegas, mas percebo que nós temos uma cadência
própria, uma postura diferente, e uma qualidade acima da média, e isso faz toda
a diferença. Infelizmente eu que até pensava fechar a minha carreira na SFAL,
visto que foi ali que fiz o meu primeiro Carnaval com o HOLIDAY IN PORTUGAL,
mas OS CHICOS ESPERTOS depois de eu ter explicado, numa carta registada com
aviso de recepcção que enviei para a Direção, que em 6 anos sempre levamos o
mesmo valor e que estava na altura de sermos recompensados, mas um pouco por
tudo o que tínhamos feito, por termos posto a SFAL no mapa dos melhores
Carnavais do Distrito de Setúbal e não só, de termos conseguido em 2013 sermos
pagos só com a receita da porta, saibam que nem á merda me mandaram. Quero
dizer mandaram, porque nem sequer me deram resposta.
Não vejam ofensa no meu
termo CHICO ESPERTOS, eu prefiro que a carapuça seja enfiada a quem ela couber.
Aquilo que eu disse é verdade, a desertificação das Coletividades de Cultura e
Recreio, é muito mais complexa do que eu aqui aponto, isto é so a ponta do
Iceberg, agora acreditem que sem peneiras eu sou um perito nesta matéria,
porque estou há 46 anos por dentro deste assunto e estudei-o em profundidade,
mas ninguém se admire, afinal os CHICOS ESPERTOS deste PAÍS puseram-nos a pedir
esmola.
Eu sei que os Companhia
Limitada são um projeto válido, mas desenganem-se se acham que eu tenho a mania
que somos os salvadores da Pátria, eu tenho perfeita noção de que não é o nosso
nome que agora vai voltar a encher as salas que eu citei, porque eles
desabituaram as pessoas, não interagiram com os sócios, porque se eu soubesse
que se fosse tocar aos Franceses ou aos Penicheiros ia encher a sala, eu até de
borla lá ia. Só que a realidade é muito diferente. As gerações de hoje não
querem bailes, os mais velhos querem é danceterias, com pouca luz onde podem
soltar a franga é por isso que eu afino quando me dizem “Oh chefe toque aí
qualquer coisa para a velhada” ser velho não é um direito é a vida e os mais
velhos tem de saber conviver, criar ambiente para os mais novos se sentirem bem
e passarem a mensagem às Futuras gerações é aqui que está o “gato” senão é o
descalabro total e um salve-se quem puder.
Pela minha parte? Só
quero saúde para poder subir a um palco e empregar a minha experiencia e o
talento que julgo ter para fazer terceiros felizes, novos e velhos. Mas se
houver por aí algum CHICO ESPERTO que se queira redimir, por mim tudo bem não
sou rancoroso nem já tenho pachorra para alimentar quezílias de estimação.
TÁ DITO? TÁ FEITO
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