DESABAFOS DE DOMINGO 18/5/2014
QUALQUER
COISA P´RA VELHADA!
Pelo “Cornista” social CABÉ
Fico piúrço,
quando de quando em vez alguém se abeira do palco e me diz: “Oh amigo toque aí
qualquer coisa para velhada”.
Há duas
interpretações para esta frase que me revolta e que raramente fica sem
resposta. A primeira é quando o tal “velhote” me aborda e me pretende tocar no
coração, usando a máscara da comiseração, do tipo tenha pena que eu já sou
velho, e a outra é quando o “velhote” presunçoso se acha no direito de
achincalhar quem está a trabalhar.
Normalmente o
primeiro tem uma resposta educada da minha parte, mas o segundo fica a segundos
de o mandar chatear os tomates do padre Inácio.
Desde miúdo que
sempre respeitei as pessoas de mais idade, na certeza que estava a contribuir
para quando um dia chegasse a minha altura este sentimento já estivesse mais
enraizado e o Mundo fosse melhor, mas se hoje a juventude parece não saber o
que é isso, também não é menos verdade que as pessoas que nunca prestaram como
seres humanos, isto socialmente falando, quando ficam mais “velhos” tornam-se
uns refinados filhos da puta e julgam que a idade lhes dá o direito de falarem
de qualquer maneira.
Ao longo dos meus
46 anos de músico tenho observado tantas vezes figuras tão tristes que me
pergunto se hoje que já entrei na terceira idade como diz a Sónia e a minha
Ligia, eu me iria transformar naquelas pessoas que eu hoje condeno aqui no meu
desabafo.
E digo iria,
porque tenho a certeza que no meu perfeito juízo isso não irá acontecer, e
reparem isto não é só para os homens, as mulheres são a mesma coisa, muitas
perderam a vergonha, algumas levaram uma vida de submissão, mas ou porque ficam
viúvas ou divorciadas, salta-lhes a franga e é cada tiro cada melro, esquecem
os filhos a família os bons costumes e é vê-las todas galinhas emproadas a
fazerem charme descaradamente, chegando ao ridículo da violência física e
verbal tudo por causa do macho que ás vezes nem com Viagra já lá vai. Claro que
não há regra sem execepcção.
Mas o macho qual
galo de capoeira, fica com as penas todas eriçadas porque tem ali duas carcaças
velhas a disputarem-no… Isto amigos eu tenho visto muitas vezes, uma das minhas
funções quando estou no palco é precisamente observar a reação do público, para
poder passar á música seguinte e como é óbvio como estou num lugar privilegiado
de observação muitas destas coisas não me escapam.
Mas tudo bem se as
pessoas acham que são felizes assim, desde que gostem e respeitem o meu
trabalho, cada um sabe de si, mas quando o macho latino já perdeu a pedalada e
se chega ao pé de mim e quase me espeta o dedo na cara enquanto me interroga.”Oh
amigo e para velhada não há nada”???
MAS QUAL
VELHADA??
E o mais triste, é
que este “não há nada pra velhada” é vira o disco e toca o mesmo, ou quer um
tango, ou uma valsa, ou um passo doble, agora também já pedem um corridinho
lolllll, mas nós nesses bailes da “velhada” como ele diz, tocamos sempre que percebemos que vale a pena,
mas e todas as outras músicas que já tocamos e que toda a gente dançou, se
divertiu e pedem bis foi para quem???
A qualidade do
nosso trabalho fica em causa porque não tocamos logo uma valsa, o tango ou o passo
doble?
Então o esforço
que fazemos por tocarmos música de qualidade variada é posta em causa porque
não tocamos na altura que o “freguês” queria as músicas que ele considera “pra
velhada”, mas o “freguês” fala por ele ou pelo coletivo?
È que eu não vejo
mais ninguém a reclamar, mas o esperto do pedaço acha-se no direito de vir impor
junto de músicos profissionais, a sua pseudo autoridade. È nessa altura que eu
penso:
Fonix há 46 anos
que a ferida dura, e nada mudou.
Foi por pessoas
destas que o Salazar lixou o povo tantos anos, que morreram milhares na guerra
colonial, que depois do 25 de Abril continuamos a ser roubados por estes
canalhas filhos da puta que se intitulam políticos, e ano após ano nada muda,
porque estas pessoas que deviam de ser bandeiras de liberdade para os jovens,
preferem fingir que não se passa nada e voltam a votar nos mesmos, mesmo
sabendo que vão continuar a serem tratados como lixo e continuam a babarem-se
com as paneleirices do Portas por exemplo. Até as peixeiras em vez de lhe darem
com um chícharo do alto no focinho, dão beijinhos e vivas mesmo sabendo que
nada de bom vem daquela gentalha.
Ao fim de tantos
anos os “velhos” tinham a obrigação de agitar as massas de passar a sua experiência
de uma vida de trabalho e desilusão aos mais novos para os manter em estado de
alerta permanente, para muitos que sempre lhes faltou coragem quando eram
novos, hoje que são “velhos” que deviam de perceber que nada têm mais a perder
e dar o exemplo, agirem e dizerem basta, chega de tango, de passo doble ou valsa,
que no fundo é sempre o mesmo fado.
Mas não,
habituaram-se a ser uns submissos toda a vida, uns acomodados e hoje
refugiam-se na velhice para alternar entre a comiseração por eles próprios ou a
maldade refinada e em vez de quererem dançar outros ritmos e mostrar que ser
“velho” não é ser coitadinho, não senhor, toda a vida dançaram sempre a mesma
merda e querem que os “outros” que tem essa coragem de mudar fiquem pelo
velhinho Tango, passo doble, ou valsa… è bom? Claro, mas há mais ritmos.
Há que nos adaptarmos
aos tempos que correm e estarmos atentos. Se assim não fosse, como é que acham
que eu ao fim de 46 anos ainda tenho um grupo musical de referencia??
Sabem porquê???
Querem mesmo saber? Então lá vai!
Porque eu tive
coragem de mudar, e em vez de querer continuar a tocar o mesmo tango e o passo
doble e a valsa, eu fui beber a inspiração nos mais novos e em vez de me pôr em
bicos de pés e dizer “ já trabalhei,
agora quem quiser que trabalhe e não me venham com modernismos”, eu não quis
ser mais um acomodado.
Em vez de pensar
que tinha de ser á minha maneira e ficar num orgulhosamente só, eu juntei-me
aos mais novos, emprestei-lhes a minha experiencia e o talento que Deus me deu
e aos poucos tenho vindo a construir um projeto diferente para melhor, não fui
zurzir nos que ainda tocam so tangos e valsas e passo dobles, preferi aprender
outros ritmos, outras músicas, outras tecnologias e enquanto Deus me der vida e
saúde vou teimando.
Em suma recusei-me
a baixar os braços.. tive a clarividência de perceber que em vez de me juntar á
brigada do reumático e achar que a antiguidade é um posto que não me dá
direitos de porra alguma, eu juntei-me aos jovens, bons jovens diga-se,
acreditando que iria evitar que andassem á deriva e ensinei-lhes tudo o que
aprendi, deduzi ainda que se continuasse com a malta que me acompanhou durante
30 anos já não ia muito longe, nem sei
se chego lá, porque quem me conhece sabe que eu não corro atrás de quimeras e
não me iludo, não sei se estarei certo, mas pelo menos sou feliz.
Os “velhos” do
Restelo, têm de perceber que há mais
Mundo para além da porra de um passo doble, que há mais vida que dançar o mesmo
tango e que se consegue melhor vida do que se sujeitar a um compasso binário de
uma qualquer valsa.
Quando alguém acha
que algumas músicas que têm coreografias e que fazem as delicias da maioria das
pessoas, só serve para fazer ginástica, e que era melhor o velhinho tango, não
se iluda, porque os ginásios estão cheios de pessoas que se negam a entregar os
pontos de mão beijada, lá “velhinhos” paga-se muito bem por uma aula de Zumba,
ou fazer exercício ao som de um bom Merengue, ou um cardio benéfico de uma
Salsa por exemplo.
Com os outros
colegas não sei mas com os Companhia Limitada tem tudo isto e de BORLA, além do
tanguinho, da valsa e do passo doble claro, mas não é quando o “velhinho “ quer
é quando os profissionais que estão em cima do palco entenderem, porque este é
o seu trabalho, agora cabe ao “velhinho” decidir se quer que tenham respeito
por si, ou pena de si? E quando um dia disser aquela maldita frase “ E p’ra
velhada não há nada? “ olhe para o lado e veja que não está sozinho, que
normalmente há largas dezenas de pessoas que se estão a divertir, nessa altura
peça com respeito e será atendido, espere pela sua vez. tal e qual como é
obrigado a fazer quando vai ao centro de saúde medir a tensão, tal e qual como
tem de pagar a porra do IMI, do IRS etc… espera e não pia, aí não faz fitas porque senão,
ainda o metem num hospício qualquer sem direto a visita..
É amigo “velhinho”
os jovens de hoje, são arrogantes, malcriados e intolerantes esquecem-se que a
vida é uma passagem e que não valem um “peido”, com um bocado de sorte quem
sabe ainda podem chegar a “velhinhos” mas não queira que eles depois continuem com
a mesma lenga lenga
“ E P’RA VELHADA
NÃO HÁ NADA?”
Viva e tente ser feliz.
TÁ DITO? TÁ FEITO!
Cabé
Nr: Cornista
social porque sou enxertado e corno de cabra.
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