terça-feira, 7 de outubro de 2014

DESABAFOS DE DOMINGO 18/5/2014

QUALQUER  COISA  P´RA VELHADA!

Pelo “Cornista” social CABÉ

Fico piúrço, quando de quando em vez alguém se abeira do palco e me diz: “Oh amigo toque aí qualquer coisa para velhada”.
Há duas interpretações para esta frase que me revolta e que raramente fica sem resposta. A primeira é quando o tal “velhote” me aborda e me pretende tocar no coração, usando a máscara da comiseração, do tipo tenha pena que eu já sou velho, e a outra é quando o “velhote” presunçoso se acha no direito de achincalhar quem está a trabalhar.
Normalmente o primeiro tem uma resposta educada da minha parte, mas o segundo fica a segundos de o mandar chatear os tomates do padre Inácio.
Desde miúdo que sempre respeitei as pessoas de mais idade, na certeza que estava a contribuir para quando um dia chegasse a minha altura este sentimento já estivesse mais enraizado e o Mundo fosse melhor, mas se hoje a juventude parece não saber o que é isso, também não é menos verdade que as pessoas que nunca prestaram como seres humanos, isto socialmente falando, quando ficam mais “velhos” tornam-se uns refinados filhos da puta e julgam que a idade lhes dá o direito de falarem de qualquer maneira.
Ao longo dos meus 46 anos de músico tenho observado tantas vezes figuras tão tristes que me pergunto se hoje que já entrei na terceira idade como diz a Sónia e a minha Ligia, eu me iria transformar naquelas pessoas que eu hoje condeno aqui no meu desabafo.
E digo iria, porque tenho a certeza que no meu perfeito juízo isso não irá acontecer, e reparem isto não é só para os homens, as mulheres são a mesma coisa, muitas perderam a vergonha, algumas levaram uma vida de submissão, mas ou porque ficam viúvas ou divorciadas, salta-lhes a franga e é cada tiro cada melro, esquecem os filhos a família os bons costumes e é vê-las todas galinhas emproadas a fazerem charme descaradamente, chegando ao ridículo da violência física e verbal tudo por causa do macho que ás vezes nem com Viagra já lá vai. Claro que não há regra sem execepcção.
Mas o macho qual galo de capoeira, fica com as penas todas eriçadas porque tem ali duas carcaças velhas a disputarem-no… Isto amigos eu tenho visto muitas vezes, uma das minhas funções quando estou no palco é precisamente observar a reação do público, para poder passar á música seguinte e como é óbvio como estou num lugar privilegiado de observação muitas destas coisas não me escapam.
Mas tudo bem se as pessoas acham que são felizes assim, desde que gostem e respeitem o meu trabalho, cada um sabe de si, mas quando o macho latino já perdeu a pedalada e se chega ao pé de mim e quase me espeta o dedo na cara enquanto me interroga.”Oh amigo e para velhada não há nada”???
MAS QUAL VELHADA?? 
E o mais triste, é que este “não há nada pra velhada” é vira o disco e toca o mesmo, ou quer um tango, ou uma valsa, ou um passo doble, agora também já pedem um corridinho lolllll, mas nós nesses bailes da “velhada” como ele diz,  tocamos sempre que percebemos que vale a pena, mas e todas as outras músicas que já tocamos e que toda a gente dançou, se divertiu e pedem bis foi para quem???
A qualidade do nosso trabalho fica em causa porque não tocamos logo uma valsa, o tango ou o passo doble?
Então o esforço que fazemos por tocarmos música de qualidade variada é posta em causa porque não tocamos na altura que o “freguês” queria as músicas que ele considera “pra velhada”, mas o “freguês” fala por ele ou pelo coletivo?
È que eu não vejo mais ninguém a reclamar, mas o esperto do pedaço acha-se no direito de vir impor junto de músicos profissionais, a sua pseudo autoridade. È nessa altura que eu penso: 
Fonix há 46 anos que a ferida dura, e nada mudou.
Foi por pessoas destas que o Salazar lixou o povo tantos anos, que morreram milhares na guerra colonial, que depois do 25 de Abril continuamos a ser roubados por estes canalhas filhos da puta que se intitulam políticos, e ano após ano nada muda, porque estas pessoas que deviam de ser bandeiras de liberdade para os jovens, preferem fingir que não se passa nada e voltam a votar nos mesmos, mesmo sabendo que vão continuar a serem tratados como lixo e continuam a babarem-se com as paneleirices do Portas por exemplo. Até as peixeiras em vez de lhe darem com um chícharo do alto no focinho, dão beijinhos e vivas mesmo sabendo que nada de bom vem daquela gentalha.
Ao fim de tantos anos os “velhos” tinham a obrigação de agitar as massas de passar a sua experiência de uma vida de trabalho e desilusão aos mais novos para os manter em estado de alerta permanente, para muitos que sempre lhes faltou coragem quando eram novos, hoje que são “velhos” que deviam de perceber que nada têm mais a perder e dar o exemplo, agirem e dizerem basta, chega de tango, de passo doble ou valsa, que no fundo é sempre o mesmo fado.
Mas não, habituaram-se a ser uns submissos toda a vida, uns acomodados e hoje refugiam-se na velhice para alternar entre a comiseração por eles próprios ou a maldade refinada e em vez de quererem dançar outros ritmos e mostrar que ser “velho” não é ser coitadinho, não senhor, toda a vida dançaram sempre a mesma merda e querem que os “outros” que tem essa coragem de mudar fiquem pelo velhinho Tango, passo doble, ou valsa… è bom? Claro, mas há mais ritmos.
Há que nos adaptarmos aos tempos que correm e estarmos atentos. Se assim não fosse, como é que acham que eu ao fim de 46 anos ainda tenho um grupo musical de referencia??
Sabem porquê??? Querem mesmo saber? Então lá vai!
Porque eu tive coragem de mudar, e em vez de querer continuar a tocar o mesmo tango e o passo doble e a valsa, eu fui beber a inspiração nos mais novos e em vez de me pôr em bicos de pés e dizer “  já trabalhei, agora quem quiser que trabalhe e não me venham com modernismos”, eu não quis ser mais um acomodado.
Em vez de pensar que tinha de ser á minha maneira e ficar num orgulhosamente só, eu juntei-me aos mais novos, emprestei-lhes a minha experiencia e o talento que Deus me deu e aos poucos tenho vindo a construir um projeto diferente para melhor, não fui zurzir nos que ainda tocam so tangos e valsas e passo dobles, preferi aprender outros ritmos, outras músicas, outras tecnologias e enquanto Deus me der vida e saúde vou teimando.
Em suma recusei-me a baixar os braços.. tive a clarividência de perceber que em vez de me juntar á brigada do reumático e achar que a antiguidade é um posto que não me dá direitos de porra alguma, eu juntei-me aos jovens, bons jovens diga-se, acreditando que iria evitar que andassem á deriva e ensinei-lhes tudo o que aprendi, deduzi ainda que se continuasse com a malta que me acompanhou durante 30 anos já não ia  muito longe, nem sei se chego lá, porque quem me conhece sabe que eu não corro atrás de quimeras e não me iludo, não sei se estarei certo, mas pelo menos sou feliz.
Os “velhos” do Restelo,  têm de perceber que há mais Mundo para além da porra de um passo doble, que há mais vida que dançar o mesmo tango e que se consegue melhor vida do que se sujeitar a um compasso binário de uma qualquer valsa.
Quando alguém acha que algumas músicas que têm coreografias e que fazem as delicias da maioria das pessoas, só serve para fazer ginástica, e que era melhor o velhinho tango, não se iluda, porque os ginásios estão cheios de pessoas que se negam a entregar os pontos de mão beijada, lá “velhinhos” paga-se muito bem por uma aula de Zumba, ou fazer exercício ao som de um bom Merengue, ou um cardio benéfico de uma Salsa por exemplo.
Com os outros colegas não sei mas com os Companhia Limitada tem tudo isto e de BORLA, além do tanguinho, da valsa e do passo doble claro, mas não é quando o “velhinho “ quer é quando os profissionais que estão em cima do palco entenderem, porque este é o seu trabalho, agora cabe ao “velhinho” decidir se quer que tenham respeito por si, ou pena de si? E quando um dia disser aquela maldita frase “ E p’ra velhada não há nada? “ olhe para o lado e veja que não está sozinho, que normalmente há largas dezenas de pessoas que se estão a divertir, nessa altura peça com respeito e será atendido, espere pela sua vez. tal e qual como é obrigado a fazer quando vai ao centro de saúde medir a tensão, tal e qual como tem de pagar a porra do IMI, do IRS etc…  espera e não pia, aí não faz fitas porque senão, ainda o metem num hospício qualquer sem direto a visita..
É amigo “velhinho” os jovens de hoje, são arrogantes, malcriados e intolerantes esquecem-se que a vida é uma passagem e que não valem um “peido”, com um bocado de sorte quem sabe ainda podem chegar a “velhinhos” mas não queira que eles depois continuem com a mesma lenga lenga
“ E P’RA VELHADA NÃO HÁ NADA?”
 Viva e tente ser feliz.
TÁ DITO? TÁ FEITO!
Cabé

Nr: Cornista social porque sou enxertado e corno de cabra.           

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