terça-feira, 20 de março de 2012

E CADÊ OS MEUS DIREITOS? ( DESABAFOS 8 )

Começo por pedir desculpa por ter escolhido um título “pro Brasileirês” para o meu “DESABAFOS 8” mas na verdade, com o novo acordo ortográfico, já não sei o que é certo ou errado. Embora tenha de ter cuidado com a ortografia, sendo certo que não estou a fazer um exame de Português, creio que me posso dar ao “luxo” de usar algum calão desde que, consiga passar a ideia, a que me proponho neste novo post.
Possivelmente, os meus amigo(a)s leitores já estarão de sobrolho franzido a pensar que, finalmente, tomei uma postura reivindicativa sobre os meus direitos civis e, quiçá, até irei começar a zurzir no Zé Inácio das finanças, o tal, que me brindou com o I.M.I. já contemplando o respectivo aumento, ou irei desferir mais uma machadada verbal sobre a troika, ou ainda que irei criar uma nova piada sobre o ar “abichanado” do Portas.
Embora eu considere, a crítica um direito democrático do qual ainda não prescindo, não estou à altura de meter a minha foice em seara alheia porque, para arrumar a “casa” dos outros tenho de tirar os meus esqueletos do armário e oferecê-los a quem goste de filmes de terror. Assim, fico bem visto, sou solidário e limpo a “alma”.
No entanto e apesar desta minha vontade de dar uma geral (entenda-se limpeza) há esqueletos que eu, por mais que me esforce, não me consigo ver livre e porquê? Porque para o fazer, eu teria de chamar os bois pelos nomes e isso poderia ferir as susceptibilidades de certas pessoas que têm a cabeça pesada (entenda-se, a consciência)J.
De maneira que, sem citar os verdadeiros nomes dos personagens da minha história, irei aqui deixar o meu ponto de vista sobre o título que escolhi para mais um “desabafo” e, como se costuma dizer, a carapuça serve a quem a enfiar.
Durante a minha já longa carreira (graças a Deus) ligada ao mundo do “show business”, tenho sofrido algumas desilusões dado que, sem querer, acabo por misturar “alhos com bugalhos”. Pois quando se trata de ajudar alguém que, por esta ou por aquela razão, precisa da minha ajuda para realizar o “tal” sonho de poder subir a um palco com uma performance, da qual não se envergonhe, eu entrego-me de corpo e alma a essa tarefa e acabo por ir além do que seria necessário, em detrimento da minha vida pessoal e familiar.
Pelo que poderei referir que me tem aparecido de tudo um pouco, ou seja, desde a jovem mais talentosa, ao cromo mais ingénuo. A todos, sem excepção, dei sempre a minha ajuda acompanhada de uma opinião sincera, sobre o que podem esperar do tal “mundo” ao qual eles sonham, um dia, pertencer.
Fico sempre entusiasmado quando vejo alguém talentoso e com capacidade de singrar. É nessa altura que me apercebo de que se tivesse tido alguém que me tivesse ajudado conforme eu o tenho feito a quem me tem procurado, a minha história ainda seria mais “rica”.
No entanto e felizmente tenho a sorte de ter uma companheira e 2 pessoas especiais, que até aos dias de hoje têm sido à prova de bala e me têm dado todo o apoio, mesmo quando eu enterro o “pé até ao pescoço”.
Ás vezes chego a acreditar que é karma e mesmo jurando que não volto a ter mais do mesmo, quando dou por mim estou novamente na corda bamba. Se disser que com os anos, eu aprendi com os meus próprios erros, estaria a mentir, a única coisa que eu tenho conseguido até aos dias de hoje, é perceber onde errei, mas pago uma factura muito alta para ser um mero assistente e o pior, é que acabo por magoar as pessoas que me amam e que sempre estiveram do meu lado.
A solução era mudar radicalmente, mas para isso, eu teria de virar um eremita e até hoje nunca fui capaz de o fazer. Foi por isso que eu resolvi começar a tirar alguns esqueletos do armário e sem me expor mais do que o necessário, passar para o “papel” as minhas queixas, catalogá-las e porque não, ouvir uma opinião alheia que, sem querer, poderá ajudar! Tipo “mezinha popular” cuja medicina convencional nunca adoptou como terapia para este tipo de maleitas.
É claro que para fazer este “E CADÊ OS MEUS DIREITOS?” e desabafar completamente, eu teria de recuar muitos anos e escrever sem rodeios sobre tudo o que me deixa cada vez mais confuso, mas esse dia ainda não chegou, por isso prefiro acima de tudo encontrar um “happy end” para a minha história social e usar o termo “o que lá vai, lá vai”, para evitar maiores constrangimentos. 
Os “direitos” que eu reclamo, têm a ver com “o mundo do espectáculo”, já que este blog se destina a registar os meus desabafos que, de uma maneira ou de outra, estão conectados com a minha actividade profissional como músico. Como ao fim de todos estes anos a conclusão é fastidiosamente repetitiva, suponho que exemplificando com um só caso, consigo expor fielmente todos os outros, que me têm acompanhado ao longo da minha carreira.
Então “bora lá”!
Um dia, a jovem Cacilda (nome fictício, já se vê) abordou-me algures nesta cidade que me viu nascer (Barreiro) e disse-me que sabia cantar J  eu retorqui, ai sabes? E quem te disse que sabias cantar? E ela muito convencida responde: a minha mãe! E eu: Ah a tua mãe, e já agora diz-me lá o que é que tu queres que eu faça? E ela: queria que o Carlos me ouvisse e me desse a sua opiniãoJ. Perguntei-lhe e que idade tem a menina? 16 Anos! Pois, mas eu só te posso ouvir cantar depois de falar com a tua mãe e arrumei logo ali a pretensão. Pensava eu!
Dias depois, aparece-me com a mãe sem eu esperar, a senhora desfaz-se em elogios à minha pessoa, ao mesmo tempo que me explica que o sonho da filha, é cantar e ser artista se possível.
Sabia que eu já havia ajudado outras pessoas e apelava para a minha bondade, já que ela não tinha recursos para me pagar. Eu suspirei fundo e pensei  para comigo “outra vez mais do mesmo, a mesma conversa de sempre”. Ainda aleguei, olhe eu bem que gostava mas não tenho muito tempo disponível não sei se me entende? No entanto a senhora não desarma e põe-me a K.O. com um, por favor oiça lá a miúda que ela nem dorme descansada.
Desta feita, enchi o peito de ar e pensei, será que desta vez vai dar certo? Olhei para a cara ansiosa da miúda e?... Bolas, também tenho uma filha quase com a idade dela e também gostaria que a ajudassem se fosse preciso. Assim, lá dei o meu aval e ficou combinado que ela iria à sala de ensaios fazer uma demo das suas potencialidades.
Entretanto vou para casa e pelo caminho penso, e agora Carlos como é que vais dizer à tua mulher que existe um novo personagem nos horizontes sociais da tua vida? Pensei, faço uma campanha de charme? Apareço em casa com a maior cara de pau e com um ramo de flores na mão? Compro-lhe um perfume? Nada disso! Ela é uma mulher fantástica por isso eu casei com ela, embora eu não seja difícil de aturar, ela é que tem apanhado por tabela com as minhas desilusões e vai mais uma vez ficar do meu lado, porque melhor do que ninguém sabe, que tenho o péssimo defeito, entre outros de não saber dizer não.
Muito calmamente explico o melhor possível o que se passou e fiquei quietinho à espera do trocoJ, mas mais uma vez ela pacientemente diz-me! Vale a pena eu dizer que não te metas nisso, porque te vais magoar? Eu para não perder a embalagem “arrefinfo” com um ar circunspecto, vais ver que se calhar vai valer a pena, pelo menos vou ouvir a miúda. A minha mulher encolhe os ombros e remata lá vamos nós outra vez, começar tudo de novo, não estás já farto de perderes tempo com quem não merece? Depois sofres tu e fazes sofrer quem gosta de ti, tu és um miúdo grande que se há-de fazer. E a conversa ficou por ali num acordo tácito de companheirismo e capacidade de desculpar quando se ama.
Dia D fui ouvir a CacildinhaJ … Bem, não superou as minhas expectativas, mas percebi que tinha estofo para fazer melhor, isso foi ponto assente. Ainda assim, tentei mais uma vez descartar-me, mas foi em vão, aquele olhar de que o mundo acabava para ela se eu não lhe desse a mão, foi mais forte e pronto, lá selamos o nosso acordo, que consistia em nada de mentiras, muito trabalho, prontidão, responsabilidade etc. etc. Relativamente a namoricos ou outras cenas similares teria de haver a certeza de que nunca iriam influenciar o nosso trabalho. Pedi-lhe, acima de tudo, que não se expusesse demasiado publicamente porque se o fizesse estaria a expor-me a mim e eu não me podia dar a esse “luxo” porque, acima de tudo, tenho uma imagem e um nome a defender.
Depois citei-lhe uma série de exemplos de outros casos em que, sem ser perdido nem achado, eu fui metido à baila. Expliquei-lhe que a sociedade iria começar a vê-la comigo, o que apesar de não trazer nada de novo, a iria obrigar a que, na minha ausência, tivesse de agir com cabecinha, para que eu não viesse a apanhar por tabela. Falei-lhe da Irina (nome fictício) que, para não ir para casa sozinha de autocarro, eu ia levar à porta de casa e que assim que eu virava costas se deslocava para o parque da cidade para ir ter com os amigos, onde permanecia até às 3,4 da manhã e a mãe a pensar que ela estava comigo nos ensaios.
Apontei-lhe o caso da Rita que, face à minha estúpida mania do proteccionismo e à semelhança da Irina, ia levar a casa depois dos ensaios, apesar de, à sexta-feira, ela ir com a mãe para a danceteria Magic, onde bebia cervejolas como eu bebo copos de água e repare o leitor que estou a falar de uma miúda de 15 anos, na altura.
Depois para não me alargar com mais exemplos terminei com o exemplo da Lúcia que jurava que não era como as outras. Ao pé de mim tinha direito a tratamento VIPJ só que depois, andava com amigos que tinham, ao que parece, esquemas que envolviam droga e um dia quando dei por mim tinha a PJ à pernaL, dá para acreditar? Pois mas é a pura das verdades. São nomes fictícios mas elas sabem bem do que eu estou a falar.
E neste caso da PJ tive de me explicar muito bem explicado, a sorte é que a Lúcia já tinha 21 anos e pôde livrar a minha pessoa, assumindo que eu não sabia de nada. E logo eu? Que nem sequer fumoJ.
Portanto a Cacildinha ficou bem avisada que se metesse o pé na argola ia logo “ca-da-mãe-ás-costas”. Quem não engoliu isto muito bem, foi a minha mulher, afinal esta história era um autêntico “déjà-vu”, mas como sempre, ela fez-me a vontade, não sem jurar que era a última vez, porque não queria que eu perdesse tempo com mais cenas de faca e alguidar.
A Cacildinha, encheu-se de brios e então passou a ser Deus no Céu e o Carlos na Terra. Era de manhã, à tarde, à noite, fins-de-semana, dias santos, feriados municipais e outros que tais. Não havia horas nem limites, o mundo continuava fora daquelas 4 paredes, mas para ela só existia a música. Eu ao ver tanto entusiasmo, deixei-me levar outra vez.
A Cacildinha passou a fazer parte do meu mundo e consequentemente da minha vida e dos meus familiares. Aprofundou as suas relações de amizade com a minha casa e família e tudo corria a todo o vapor. Estreou-se um dia num show em que eu participava e a alegria dela era contagiante, os seus olhos eram de um agradecimento total que eu continuei a investir na sua formação, tudo a custo zero.
Até que um dia sem mais nem menos a Cacilda começou a perder o gás, os olhos deixaram de ter aquele brilho, ou pior, passaram a ter outro brilho, que eu tão bem conheço de outros carnavais e mudou radicalmente a sua conduta. O porquê, não tem muito interesse para o leitor. Não foi por falta de apoio, motivação ou trabalho, foi por causa daquelas “coisas” que a gente não sabe se chove ou se molha.
Andei uns dias à deriva até que tomei uma posição e a Cacilda, que tão cuidadosa tinha sido, no sentido de manter uma imagem que já não correspondia à realidade, deixou cair a mascara por terra e eu passei a ser um intruso na vida dela. Ainda se esforçou para agradar a gregos e a troianos mas não o conseguiu, até que se deu a ruptura total e lá se foram mais anos da minha vida deitados ao lixo.
Na mesma altura, eu tinha escrito de raiz um musical que está na gaveta há muitos anos, não o produzo porque não consigo arranjar matéria-prima para tal, mas já esteve a 30 dias de ser estreado, só que, depois de ano e meio de ensaios os pais de uma das protagonistas, comunicam-me que a menina queria ir a Angola ver o irmão e passar umas férias com eleL.
O mais caricato neste caso, é que queriam que fosse eu a impedir a dita jovem de partirJ. Dá para perceber este anedotário todo que já descrevi? Garanto-vos que estou a minimizar, porque existem exemplos ainda mais ridículos para contar, mas ainda não chegou a altura certa.
Mas voltando a esta última personagem de seu nome Berta, olhei para os pais e disse-lhes: Vocês estão a brincar comigo não? Então eu ando em ensaios há ano e meio, gastei dinheiro em microfones, promovi lanches infindáveis para manter toda a gente unida, neste caso os intervenientes e os pais que assistiam aos ensaios também e agora vocês querem que eu assuma uma responsabilidade que vocês pais é que têm de assumir? Resposta deles, pois é Carlos mas ela diz que está com saudades do irmão e é um direito que ela temL.
Depois destes exemplos alusivos ao título deste post, vou ainda focar a tirada de uma jornalista que um certo dia me perguntou se eu não achava que estava a ser injusto ao querer impedir uma certa jovem de seguir os seus sonhos!
Injusto? Eu como sempre fui um não alinhado, respondi assim;
Então você sem me conhecer de lado nenhum, sem ouvir a minha versão “caga postas de pescada dessa maneira”? Carrega a jornalista novamente, então mas o Sr. percebe que é um direito que ela tem ou não?
E eu!
Direito?
Então eu dou anos da minha vida, altero as minhas rotinas, abdico do meu descanso, assumo os problemas dela como se fossem meus, dou-lhe de comer, beber, dormir, deixo-a partilhar as férias com a minha família, endivido-me para lhe proporcionar melhores meios de trabalho, assumo as responsabilidades dos contactos, contractos, parte fiscal, trato da imagem dela, da postura, das inseguranças, ensino-lhe a maneira mais rápida de chegar aos objectivos, evito que se exponha etc., etc., etc… acabando por não ter tempo para mim nem para a família, porque enquanto ela está na curva ascendente, eu tenho a perfeita noção de que para mim o tempo corre 10 vezes mais depressa e se eu quero chegar ainda a algum lado não posso facilitar, corro contra o tempo, tenho orgulho no que faço e no que consegui que ela faça e, de repente, ela quer saltar fora porque tem direito a sonhar, não interessa com o quê e deixa-me ficar com uma mão atrás e outra à frente a ter de recomeçar tudo de novo, só porque ela tem o direito de?
Então e eu sou o quê?
Lá porque ela tem o direito de sonhar, eu tenho de abdicar dos meus sonhos sem no mínimo reclamar, gritar a minha revolta, por tanta ingratidão?
Ainda por cima bem avisada, desde a primeira hora, do que eu já tinha passado para nunca me magoar, agora tenho que ficar calado porque ela tem direitos?
E o mais preocupante é que ao fim destes anos não é “ela”, são elas, as pessoas, que me sugam até ao tutano, numa atitude de puro egoísmo? Algumas, nunca quiseram saber como é que ficavam a minha mulher e os meus filhos quando eu passava horas a fio a ensinar, a dar-lhes injecções de auto estima, e massagens de ego, agora só porque mudam de ideias, alteram as regras do jogo e bye, bye, oh parvalhão! É caso para dizer
MERDA! L J L J
Felizmente não há regra sem excepcção, só que a minha motivação para  começar de novo é como a situação do nosso País, lenta, sem brilho, sem fio condutor e ruinosa. A diferença é que pelo País pouco posso fazer, mas por mimJ por mim ainda consigo acreditar que consigo mudar para melhor. Conto para isso com as “mesmas pessoas” do costume, para me guiarem e me protegerem.   
Eu assumo que sou um bobo que não aprende por mais pancada que leve, mas deixem-me que pergunte,
E CADÊ OS MEUS DIREITOS?
Tá dito Tá feito
Carlos Camarão (Mentor do projecto musical Companhia Limitada)