quarta-feira, 31 de agosto de 2011

É TUDO UMA QUESTÃO DE EQULÍBRIO (Desabafos 4 )

Confesso que cheguei a pensar que equilíbrio é exactamente a mesma coisa que gestão.
É verdade!

A vida continua a ensinar-me, na prática, o que eu não aprendi na teoria dos manuais do “salve-se quem puder”. Quando era miúdo, também cheguei a andar com livros de filosofia e psicologia debaixo do braço a deambular, porque era moda, pela boleira do parque (Barreiro) ao fim da tarde, comia uma francesinha, bebia uma Coca-Cola e olhava para os livros com um ar circunspecto convencido que percebia daquilo a potesJ.

Mas como na prática, os ensinamentos nem sempre resultavam pela positiva, depressa passei a ser eu a ajuizar os pontapés que levava nas “costas”, quando tentava seguir as ideias que os grandes pensadores do século passado tinham escrito. Passados tantos anos eu pecador me confesso que equilíbrio nada tem a ver com gestão. A gestão aprende-se nos manuais o equilíbrio é um dom nato! Ou se tem ou não.
Por exemplo, a minha esposa é dona de um QI acima da média comparado com o meu, mas enquanto eu ando de bicicleta de olhos fechados, ela é um completo atraso de vida quando tenta montar-se numa. No entanto, se fizer uma gestão apropriada de acordo com o seu QI, coloca umas rodinhas de lado e a “coisa” resulta, agora quanto ao equilíbrio nato dela? É mais fácil ensinar um pato mudo a grasnar.

Podia estar aqui a enumerar N exemplos, mas penso que já deu para perceber o mote deste desabafo.

É TUDO UMA QUESTÃO DE EQULÍBRIO               
43 anos depois de me ter iniciado nas lides musicais, ainda subo a um palco preocupado com a forma como vou equilibrar as minhas performances. Em 12 anos de carreira dos Companhia Limitada e graças ao nosso método de trabalho e empenho, temos um espólio considerável de repertório variado que nos permite tentar agradar a “Gregos e Troianos”. Muitas vezes usei a palavra “gerir” o repertório mas na minha opinião, o termo só se aplicaria se o mesmo fosse limitado, o que não é o caso.
Como tal, é mais uma questão de equilíbrio e porquê?

Porque num show temático o público sabe ao que vai, há um fio condutor que nos guia desde o princípio ao fim do espectáculo e podemos fazer exactamente o que planeámos antes, sem nos preocuparmos demasiado. No entanto, quando fazemos uma actuação para baile, curiosamente o tipo de show mais mal pago, a “coisa” muda de figura.

Se tentamos agradar à “malta” mais nova, os mais velhos reclamam, se tocamos para o pessoal mais “velho”, somos olhados com desdém pelos mais novos e…. bolas não há pachorra mesmo. Levamos meses a ensaiar músicas de qualidade para dançar e disso temos a certeza das nossas escolhas, mas baile que não se  toque o “Pai da criança”, o “Baile de Verão” ou o “Kuduro” do Emanuel, já não é baile, isto salvo raras excepções. Agora dirá você “ então e que mal têm essas músicas?”
Nenhum!

Absolutamente nenhum, mas o que é demais enjoa, só por isso.
Este ano aproveitámos a nossa tournée por terras Algarvias e nos intervalos ainda deu para corrermos as “capelinhas” e a sensação com que se fica, é que toda a gente toca a mesma coisa. Se não era Pimba que ferve, era Kizomba que dói. E dói porque o pessoal agora aproveita tudo e mais alguma coisa para tocar em ritmo de Kizomba. Atençãoooooo, que eu não estou a fazer julgamentos sobre a qualidade dos músicos, nem tão pouco às escolhas de cada um. Parece não parece? Mas não é!

O que ponho em causa, são os gostos do público, o grande “Júri” que devia de servir como mola motivadora para os músicos, que nos meus tempos de jovem adolescente servia de crivo, para as entidades contratantes e a sua opinião era a que mais “pesava”. Hoje tudo isso se perdeu e quem mais barato leva é que toca porque o “Povão” quer arrastar a sandália e marimba-se na qualidade e mais,  se não entende a música, é porque ela não presta.
Fui à FATACIL, assistir a uma dose dupla de Rita Red Shoes e Aurea a quem chamam cantora da moda. As honras de abertura pertenceram a Rita Red Shoes, que começou o espectáculo com uma hora de atraso, inaceitável na opinião generalizada, mas o recinto nunca mais enchia e vedeta que é vedeta, não se arrisca a tocar para meia dúzia de “gatos pingados”.

Fiquei encostado às baias de protecção, afinal o  meu lema é aprender até morrer. Nunca tinha visto a Rita ao vivo, conheço mal o trabalho dela, mas do pouco que já tinha ouvido, percebi que é uma música competente, com uma capacidade vocal acima da média. Com ela, trouxe músicos de grande gabarito e eu com um sorriso de orelha, a orelha, esperava ter uma lição ao mais alto nível.
À minha direita, tinha 4 jovens debutantes do sexo feminino exageradamente histéricas para o meu gosto, à minha esquerda os conservadores do costume, com um vernáculo que me arrepiava a espinha e eu no meio, lá ia analisando o que cada grupo dizia, ora divertido, ora apreensivo, porque afinal a maior parte do tempo eu estou do lado de lá da “barricada” e ser avaliado assim duma forma tão simplista sem perceberem o esforço que nós músicos fazemos para que tudo dê certo, dá-me náuseas.

Pessoalmente apreciei a performance da Rita e dos músicos, embora ficasse com a ideia de que ela fez um show muito virado para dentro, ou seja, toca e canta aquilo que realmente lhe dá mais gozo e essas ousadias pagam-se caro. A Rita, fez um show  de uma hora certinha e saiu do palco a correr, já com o recinto muito composto, mas mesmo assim sem ninguém pedir um bis(encore). Diziam as meninas histéricas com um ar de entendidas, “adoro a Ritinha”, diziam os conservadores do costume, “porra que grande seca” isto entre outros mimos que me escuso de mencionar mas que o leitor(a) deve de calcular.

Mais 40 minutos de seca, para mudar o cenário para a Aurea. A cantora entra em palco e o público aqueceu. Independentemente das qualidades excepcionais da sua voz e capacidade de interpretação, para além de um belíssimo suporte musical que de uma forma imaculada ia mostrando as suas qualidades, não tenho a menor dúvida que a cantora Aurea beneficiou de apresentar temas conhecidos, já com muitos anos e com uma linha melódica apelativa. O resultado foi um belo encore, com uma Aurea emocionada por estar a “jogar em casa”, chegando ao ponto de num desabafo sincero dizer que muitas vezes foi à FATACIL ver os artistas preferidos dela e que hoje estava ali em cima do palco. Oh como eu a compreendo!

É sempre bonito de ver humildade num artista e além disso este tipo de comportamento tem um efeito extraordinário no público. Eu aplaudi porque também senti que veio do coração.

Resumindo, quando saí dei por mim a pensar em que é que a Rita falhou, para não ter tido a recepção que teve a Aurea? Afinal a Aurea apareceu em força este ano e a Rita já leva alguma vantagem em termos de tempo. A Rita foi elitista, a Aurea mais popular e quem ganhou? Bem ganharam as duas J que o cachet de cada uma, não deve ser brincadeiraJ, mas sem ironias quem ganhou? Afinal ambas têm qualidade de sobra, então onde está a diferença? Eu nos Companhia Limitada, também sinto o mesmo, mas como ganho pouco, dou uma no cravo, outra na ferradura. Ora arrefinfo umas “pimbalhadas”, ora toco umas músicas de qualidade. Assim não corro riscos. Não é coisa que me agrade, mas em Roma sê Romano.

É TUDO UMA QUESTÃO DE EQUILÍBRIO.
Tá dito, Tá feito.

Carlos Camarão (mentor) do Grupo Companhia Limitada.         















 











 

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